Os dois tremores de terra registrados na tarde de domingo (6), nos municípios de Solonópole e Jaguaribe, foram provocados por sismicidade induzida por reservatórios. Na região, próximo ao epicentro, está o Açude Castanhão, o maior do Estado, construído entre 1995 e 2003. A explicação foi dada pelo chefe do Núcleo de Sismologia da Comissão Estadual de Defesa Civil (Cedec), Francisco das Chagas Brandão Melo. "Isso é uma realidade. Não é teoria", frisou.
Brandão explicou que há um ramo da sismologia trata dos tremores relacionados à construção de grandes reservatórios. "Isso é natural. Após 2004, houve um disparo de sismicidade na região e na Bacia do Castanhão e, da mesma forma, ocorreu em Açu, no Rio Grande do Norte", disse. Ele disse que os tremores induzidos pela ação humana têm magnitudes suportáveis.
Na tarde de anteontem, foram registrados dois tremores, entre os municípios de Solonópole e Jaguaribe. O epicentro foi o mesmo, próximo à localidade de Feiticeiro. Os abalos foram observados pelo Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP) e pelo Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LabSis/UFRN). O primeiro ocorreu às 17h08, com magnitude de 3.1 na Escala Richter e o segundo, às 17h29, de magnitude 3.4. O raio foi de 50Km.
Os tremores, provocaram medo entre os moradores das localidades de Maretas, Bom Jardim, Nova Olinda, Alto Verde e São Luiz de Solonópole e nos distritos de Nova Floresta, Feiticeiro e na localidade de Palha, em Jaguaribe.
Na manhã de hoje (8), técnicos da Cedec se reuniram com moradores, agentes de endemias e da Comissão Municipal de Defesa Civil (Comdec) de Solonópole e de Jaguaribe, com o objetivo de esclarecer e acalmar a população. "Esse é o nosso trabalho", frisou Brandão. O encontro aconteceu no distrito de Feiticeiro.
Ele lembrou que outros tremores podem ocorrer na região, mas não se sabe quando e nem que magnitude terão. Os dois tremores de domingo foram os primeiros registros significativos verificados neste ano. "Há relatos de que os moradores sentiram outros tremores de menor intensidade, na localidade de Alto Verde. São os chamados abalos secundários", disse Brandão.
Em Bom Jardim, zona rural de Solonópole, houve rachadura nas paredes de algumas casas e outros moradores contaram que o telhado tremeu. "A gente ouviu um estrondo muito forte, parecia um trovão, mas o céu estava limpo, sem nuvens. O chão estremeceu e as telhas rangiam", contou o agricultor Francisco das Chagas, 66.
Os técnicos do LabSis concordam com a possibilidade de os dois tremores de anteontem terem sido induzidos por reservatório, no caso, o Açude Castanhão, mas defendem a realização de mais pesquisas e continuidade de monitoramento da região.
De janeiro a outubro de 2015, foram registrados dez tremores no Ceará, de magnitude entre 2.2 e 3.2 graus, sentidos pelas pessoas nas áreas atingidas, e mais 30 secundários, muitas vezes não perceptíveis. A maior incidência naquele período foi em Irauçuba.