Em documento obtido pela Revista VEJA, ex-diretor da Hypermarcas narra como funcionava o esquema de repasses de dinheiro para lobista ligado a Senadores Peemedebistas como o Senador Eunício Oliveira.
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Uma delação sigilosa, obtida por VEJA, revela pela primeira vez uma pista do caminho percorrido pela propina que seria destinada a Renan -- e a outros parlamentares da alta cúpula do PMDB. O mapa da mina é apresentado, de forma detalhada e com notas fiscais, num acordo de colaboração assinado entre o Ministério Público Federal e o economista Nelson José de Mello, ex-diretor da fabricante de produtos de saúde e bem-estar Hypermarcas. O ex-executivo narra como foram repassados ao menos 26,35 milhões de reais para alguns políticos ligados a Lyra por meio de contratos fictícios assinados entre a companhia varejista e uma rede de empresas, sendo algumas delas fantasmas, e escritórios de advocacia e de auditoria.
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Senador Eunício Oliveira (PMDB) |
Além do presidente do Senado, foram citados pelo delator: o líder do PMDB Eunício Oliveira (PMDB-CE) e os senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Eduardo Braga (PMDB-AM). Nelson Mello também menciona o presidente afastado da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o seu operador Lúcio Funaro. Na manhã desta terça-feira, o jornal O Estado de São Paulo revelou que a delação do ex-executivo citava propinas de 30 milhões de reais para peemedebistas.
O delator diz que "entendeu que os montantes pagos eram para o Milton Lyra repassar aos amigos" - entre eles, Renan, Jucá, Eunício e Eduardo Braga. Os investigadores cruzaram as informações apresentadas por Nelson Mello com dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de inteligência ligado ao Ministério da Fazenda, e concluíram que houve a "efetiva movimentação bancária".
Ajuda para Eunício Oliveira
Ainda no ano de 2014, em meio às eleições, o ex-diretor da Hypermarcas disse que Milton Lyra o avisou que seria procurado por um "portador de Eunício Oliveira" para ajudar financeiramente na campanha do peemedebista ao governo do Ceará. Nelson Mello relata que se encontrou com um sobrinho de Eunício Oliveira, chamadoRicardo, e que "pagou despesas de empresas que prestavam serviços à campanha de Eunício Oliveira" por meio de "contratos fictícios" no valor total de 5 milhões de reais.
Duas delas, a Confirma Comunicação e Estratégia e a Campos Centro de Estudos e Pesquisa de Opinião, receberam 3,35 milhões de reais. O restante foi desembolsado pela Hypermarcas a partir de uma nota fiscal emitida no valor de 1,65 milhões de reais apresentada pelaConfederal Prestadora de Serviços de Vigilância e Transporte de Valores, de propriedade de Eunício.
Leia abaixo trechos do relato de Nelson Mello:
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"...que foi à casa da Presidência do Senado, quando era presidente Renan Calheiros, em recepções; que nessas ocasiões conheceu diversos Senadores, como Eunício Oliveira, Eduardo Braga e Renan Calheiros; que, portanto, notou que Milton era respeitado e tinha prestígio entre os Senadores; que, quando recebeu o pedido de Milton, viu que fazia sentido pagar porque este tinha vários amigos; que Milton dizia que os Senadores ajudavam as bases, tinham despesas de campanha; que Milton não pediu doação formal à campanha de ninguém, até porque não havia campanha; que Milton não especificou como seriam os pagamentos; que Milton depois indicou a empresa com a qual a Hypermarcas celebrou o contrato fictício no valor de R$ 2.000.000,00; que o depoente informou que teria que ser com emissão de nota fiscal; que nessa primeira fase o contrato foi com a Credpag Consultoria e Serviços Financeiros Ltda., empresa cujo nome estava na porta do escritório de Milton Lyra; que o contrato foi simulado, não houve a prestação de serviços, apesar da juntada de relatórios"
"...que entendeu que os montantes pagos eram para o Milton Lyra repassar aos amigos, não sabendo o depoente se este retinha parte dos valores, em troca da intermediação dos contatos mencionados; que os amigos de Milton Lyra eram os Senadores..."
"...que em um determinado momento de 2014 Milton Lyra informou que seria procurado por um portador de Eunício Oliveira; que recebeu um sobrinho de Eunício Oliveira, então candidato a governador, o qual pediu ajuda financeira na candidatura; que concordou com o pedido pela posição do Senador; que o sobrinho de Eunício Oliveira era de nome Ricardo; que pagou despesas de empresas que prestava serviços à campanha de Eunício Oliveira; que ajudou mediante contratos fictícios; que a ideia de pagar a uma empresa de Salvador foi sugestão de Ricardo; que o contrato foi no montante de R$ 3.350.000,00; que tratou com a esposa de uma pessoa que cuidava da campanha de marketing do governador, de Salvador, que são sócias de direito de 2 empresas; que essas empresas não tinham capital social suficiente para o pagamento; que ao final se providenciou uma nova nota fiscal para totalizar R$ 5.0000.000,00, esta em nome da empresa Confederal..."
Fonte: veja.abril